João Sebastião Teta *
Angola é um país que se situa na África Austral, com uma superfície
de 1.246.700 km2 e faz fronteira a Norte com as Repúblicas do Congo e do
Congo Democrático, a Este com a República da Zâmbia, a Sul com a
República da Namíbia e a Oeste com o Oceano Atlântico. Angola foi uma
colónia portuguesa de 1482 a 1975. Angola tornou-se independente fruto
de uma guerra de libertação nacional iniciada em 1961, que culminou com a
proclamação da independência a 11 de Novembro de 1975. No limiar da sua
independência, Angola conheceu invasões de exércitos estrangeiros e
logo depois da independência (1975), o país conheceu outro período de
guerra interna, que terminou a 4 de Abril de 2002. Antes da
independência, de acordo com o senso populacional de 1973, a população
de Angola era de 7.000.000 (sete milhões) de habitantes. A estimativa
para a população, em 2008, foi de 15.000.000 (quinze milhões) de
habitantes.
De acordo com as fontes do PNUD (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento), de 2007, importa referenciar, para
Angola, os indicadores seguintes: IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano): 0,446; Esperança de Vida: 42 anos; Taxa de Alfabetização de
Adultos: 67%; Taxa de Escolarização Bruta:
26%; Pib Per Capita: 2,34 USD.
ENSINO SUPERIOR DE ANGOLA
O Ensino Superior em Angola teve o
seu surgimento em conseqüência das convulsões político-sociais que
atingiram os territórios africanos portugueses nos anos 60 do século XX. Constata-se neste período a crescente pressão
das populações de Angola que aspiram pela independência do seu país,
como pressuposto ao direito pelo ensino a todos os níveis, por um lado, e
a crescente população estudantil (colonial e de “assimilados”1) que
reclamava soluções alternativas em lugar da obrigação que tinha de
licenciar-se em Portugal continental, por outro lado.
O Ensino Superior no Período Colonial
A implementação e o
desenvolvimento do ensino superior em Angola pode ser analisado,
historicamente, a partir do ano de 1962, com a criação dos Estudos
Gerais Universitários (EGU), através do decreto-lei 44530, de 21 de
Agosto da Administração Portuguesa. Desde aquela altura o ensino
superior público, consubstanciado numa entidade única e congregadora,
tiveram várias designações, nomeadamente: Universidade de Luanda (1968),
Universidade de Angola (1976) e Universidade Agostinho Neto (1985). A
população escolar no ano lectivo de 1973/74, por exemplo, era de cerca
de 2354 estudantes, ensinados por um corpo docente de 274 elementos. O
ensino era virado para a promoção da população colonial e para a defesa
dos interesses do regime, com base no desenvolvimento económico de
Angola, assente nos pressupostos técnico-científicos.
O Ensino Superior no Período Pós-independência e da Guerra Interna
As
autoridades da Angola independente, embora terem herdado uma
universidade sem os quadros necessários e suficientes para o seu pleno e
devido funcionamento, assim como mais de 90% da população analfabeta,
apostaram na implementação e desenvolvimento de um sistema de ensino, da
base ao topo –da alfabetização ao ensino superior, de abrangência
nacional, universal e sem descriminação. Não obstante os
constrangimentos provocados pela guerra houve igualmente um grande
esforço do Governo para expansão da UAN (a única instituição de ensino
superior pública) a nível nacional. Assim, a UAN esteve, até 2002, em 7
das 18 províncias de Angola: Luanda, Huambo, Huíla, Benguela, Uíge,
Cabinda e Kwanza-Sul. Funcionavam, até a altura, 31 cursos de licenciatura. A população académica na UAN no ano lectivo 2001/2002
era composta por 9.129 estudantes de licenciatura, 869 docentes e 1.129
funcionários não docentes, entre técnicos e pessoal administrativo. A
média de formados (licenciados) por ano, neste período, não era superior
a 100 graduados, tendo se atingido o auge de 176 licenciados no ano
lectivo 2001/2002.
Neste período são criadas e começam a
funcionar as três primeiras Instituições de ensino superior privado em
Angola, nomeadamente e por ordem de criação: Universidade católica de
Angola (1999), a Universidade Lusíada de Angola (1999) e a Universidade
Jean Piaget de Angola. Segundo dados que nos foram fornecidos, a
população estudantil geral do subsistema do ensino superior era
composta, no ano lectivo 2001/2002, de 9.129 estudantes na UAN e cerca
de 2.000 estudantes nas universidades privadas.
O Ensino Superior no Período de Paz
O
alcance da paz em 2002 (4 de Abril) foi o maior ganho do povo angolano
depois de um período de 41 anos de guerras permanentes, isto é de 1961 à
2002, não obstante as sequelas da escravatura e da colonização. Assim, a
partir de 2002 foi possível expandir o ensino superior a nível
nacional.
A expansão da UAN criou as bases para o aumento do
número de estudantes admitidos e do número de finalistas. Assim, de
2001\2002 para 2008: A procura anual pelos cursos ministrados na UAN
variou de cerca de 5.000 (cinco mil) para cerca de 70.000 (setenta mil),
enquanto que a oferta (númerus clausus) anual variou de 856 (oitocentos
e cinquenta e seis) para 8.300 (oito mil) vagas; O número de estudantes
inscritos num dado ano lectivo cresceu de 9.129 para cerca de 54.000
(cinquenta e quatro mil) estudantes; O número de finalistas por ano
(graduados e pós-graduados) aumentou de 172 (2001/02) para 2.557 (2007)
finalistas, entre mestres, licenciados e bacharéis; O número de cursos
cresceu de 31 para 83.
Em 2008 o número total aproximado de
graduados e pós-graduados pela UAN foi cerca de 3.000, dos quais 50
mestres. É de sublinhar que os cursos de pós-graduação (mestrados)
começaram a ser implementados apenas a partir do ano lectivo 2004/2005.
Foram igualmente instituídos os cursos de agregação pedagógica para os
docentes da UAN, condição necessária para a ascensão na carreira docente. Estão em curso 3 projectos de doutoramento. O
crescimento do ensino superior não foi apenas quantitativo. Cresceu o
número de docentes qualificados académica e pedagogicamente. A
investigação científica é hoje um facto, seja através das dissertações
de mestrado como dos projectos de doutoramento assim como de projectos
específicos de investigação aplicada.
No período de 2002 a 2007 o
número de docentes cresceu de 988 para 1.399, dos quais 206 são
doutores, 427 mestres e 766 licenciados, enquanto que em 2002 o número
de doutores era de 165, de 151 mestres e de 672 licenciados. Um pouco
mais de 60% dos docentes estão em tempo integral. Foram criadas, neste
período, mais 2 (duas) instituições de ensino superior público e 10
(dez) instituições de ensino superior privado. Assim, o subsistema de
ensino superior contou com 3 instituições de ensino superior público e
13 instituições de ensino superior privado. Se tivermos em conta o
desempenho de todas as instituições de ensino superior de Angola (UAN,
Outras Instituições Públicas e Instituições Privadas de Ensino
Superior), os números totais aproximados da procura pelo ensino superior
(candidatos), de vagas (Nr. clausus), de estudantes inscritos e de
finalistas (Bachareis, Licenciados e Mestres) no ensino superior em
Angola, em 2008, foi de 80.000, 13.000, 85.000 e 3.300, respectivamente.
DESAFIOS E PERSPECTIVAS
A pressão permanente sobre o
ensino superior e a consequente explosão escolar, a proliferação de
instituições de ensino superior, a falta de docentes para estas
instituições, a magnitude da UAN a nível nacional e a notória
dificuldade na sua gestão, assim como a necessidade de garantir um
mínimo de qualidade desejável e compatível com os desafios da nossa era
levaram o Governo de Angola a elaborar as Linhas Mestras para balizar a
implementação e desenvolvimento do ensino superior no nosso país.
Com
base nestas linhas mestras foi elaborado um dispositivo jurídico que
redimensiona a UAN e cria mais 6 universidades públicas em Angola, com
abrangência regional (conjunto de províncias) e cria um quadro regulador
para todas as instituições de ensino superior (públicas e privadas).
O
maior desafio para os próximos tempos vai ser a implementação das
universidades públicas e/ou privadas, tendo em conta as linhas mestras e
os seguintes pressupostos: Recrutamento de docentes para as novas
instituições a altura dos desafios impostos ao ensino superior neste
milénio; Recrutamento e formação académica e pedagógica de docentes
angolanos; Realização de programas curriculares, tendo em conta a
idiossincrasia dos angolanos, sem perder de vista o conhecimento
universalmente consagrado sobre esta matéria; Construção e
apetrechamento de novas infra-estruturas de ensino superior adequada à
qualidade universalmente exigida; Financiamento adequado aos recursos
humanos e matérias existentes.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O desenvolvimento necessário e
harmonioso do ensino superior em Angola esteve condicionado às
vicissitudes da colonização e das guerras que assolaram o nosso país de
1961 à 2002; Os constrangimentos históricos não impediram a afirmação e
desenvolvimento do ensino superior; O alcance da paz em 2002 foi o
factor decisivo para o crescimento notório do ensino superior nos
últimos anos; O ponto de partida para o desenvolvimento do ensino
superior é o seu docente. Urge criar condições para que os docentes
estejam motivados para os desafios de desenvolvimento do ensino
superior; Um docente desmotivado é o adiamento do futuro de um povo, de
uma nação, enfim, do planeta terra.
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